Lina Bo Bardi - No que ela estava pensando?
“É preciso se libertar das “amarras”, não jogar fora simplesmente o passado e toda a sua história; o que é preciso, é considerar o passado como presente histórico. O passado, visto como presente histórico é ainda vivo, é um presente que ajuda a evitar as várias arapucas. Diante do presente histórico, nossa tarefa é forjar um outro presente, “verdadeiro”, e para isso é necessário não um conhecimento profundo de especialista, mas uma capacidade de entender historicamente o passado, saber distinguir o que irá servir para as novas situações de hoje que se apresentam a vocês, e tudo isto não se aprende somente nos livros”
Achillina Bo.
Originado do latim, o nome desperta interesse e transmite a força de sua personalidade. Nascida em 5 de dezembro de 1914, em Roma, cresceu cercada pelo berço da arquitetura clássica, desenvolvendo ideais opostos. Considerada como ‘aluna polêmica’, estudou arquitetura na Universidade de Roma. Seus projetos contrapunham os professores, traçando novos horizontes para arquitetura modernista.
Em 1940, ela se muda para Milão, o centro das artes italianas, onde trabalhou com o arquiteto Gio Ponti. Após receber notoriedade pelos projetos ousados, fundou o seu próprio escritório, em parceria com Carlo Pagani. Contudo, o avanço da Segunda Guerra Mundial acarretou a perda de clientes, principalmente, após o estabelecimento ser bombardeado em um ataque inglês.
Abalada, Lina se juntou ao Partido Comunista Italiano, a fim de lutar contra a destruição da guerra. Participou da resistência à invasão alemã e se tornou um membro respeitado do movimento. No caminho, fundou a revista “A Cultura da Vida”, um material semanal sobre atualidades, críticas e arquitetura.
Após a derrota da Itália e a destruição do continente europeu, Lina se encontrava desgastada e horrorizada com os traumas da guerra. Na busca por mudanças, casou-se com o jornalista Pietro Maria Bardi, tornando-se a ilustre: Lina Bo Bardi.
“Naturalizei-me brasileira. Quando a gente nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Eu não nasci aqui, escolhi este lugar para viver. Por isso, o Brasil é meu país duas vezes, e eu me sinto cidadã de todas as cidades, desde o Cariri ao Triângulo Mineiro, às cidades do interior e da fronteira”
Ao chegar ao Brasil, Lina se depara com um país novo, repleto de possibilidades. Fascinada pelas múltiplas culturas, começa a explorar ainda mais o modernismo, trabalhando com a união de elementos brasileiros, dentre igualdade e união do povo. Sua paixão iniciou no Rio de Janeiro, através da harmonia da natureza com o cenário urbano, porém, com o trabalho de Pietro, o casal se muda para São Paulo, iniciando o projeto da residência oficial: A Casa de Vidro.
Muito mais que arquiteta, Lina Bo Bardi também era uma pensadora. Anotava os seus pensamentos e os transcrevia em outra forma de linguagem, através de seus projetos. Ela uniu o modernismo ao popular - elementos que aparentavam distantes quando colocados na mesma frase. De tal forma, ganhou reconhecimento nacional, principalmente, perante os pensadores e intelectuais brasileiros.
Assis Chateaubriand, responsável pelo Museu de Arte de São Paulo, encomendou o projeto da nova sede do museu com Lina. Sendo reconhecido como uma das construções mais famosas do Brasil, o prédio do MASP eternizou sua carreira. Os denominados “vãos livres” simbolizam a união e a acessibilidade. A fachada de vidro é a união com o povo, durante o regime ditatorial. Cada elemento foi pensado e desenvolvido de forma única, sendo admirado por gerações.
Com o seu trabalho, Lina Bo Bardi conquistou o Brasil e o mundo. Considerada uma das maiores feministas brasileiras, percorreu todo o país, realizando projetos marcantes e históricos. Em 19 de março de 1992, ela realizou o seu sonho de falecer trabalhando. Deixou apenas um projeto inacabado: a reforma da prefeitura de São Paulo.
Portanto, no que Lina Bo estava pensando?